NATAL PORQUE CELEBRAMOS? O QUE CELEBRAMOS?
Lembrar que nosso divino Mestre Jesus, o Cristo, jamais sugeriu que comemorássemos a data de seu nascimento, em nenhuma das escrituras, canônicas, apócrifas ou gnósticas... Vejam o que ele nos pediu:
"E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim." Lucas 22:19.
"Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós." Lucas 22:20.
"Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue, que é derramado por vós." Lucas 22:20.
"E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo." Genesis 14:18.
O Sol realiza a cada ano uma viagem elíptica que começa no dia 25 de dezembro, e então regressa ao pólo sul; exatamente por isto vale a pena refletirmos em seu significado profundo. Nesta época começa o frio no hemisfério norte, devido exatamente ao fato de que o Sol vai se afastando para as regiões austrais e, no dia 24 de dezembro, terá atingido o ponto máximo de sua viagem na direção sul. Se o Sol não avançasse rumo ao norte do dia 25 de dezembro em diante, morreríamos de frio. A Terra inteira se converteria em um bloco de gelo e realmente pereceriam todas as criaturas, tudo o que tem vida.
Assim, vale à pena refletir sobre o acontecimento do Natal. O Cristo-Sol deve avançar para dar-nos vida, e, no equinócio da Primavera, se crucifica na Terra.
É precisamente na Primavera que o Senhor deve passar por sua vida, paixão e morte, para logo ressuscitar; a Semana Santa é na Primavera no Hemisfério Norte.
O Sol físico nada mais é que um símbolo do Sol Espiritual, do Cristo-Sol. Quando os antigos adoravam o Sol, quando lhe rendiam culto, não se referiam exatamente ao Sol físico; rendia-se culto ao Sol Espiritual, ao Sol da Meia-Noite, ao Cristo-Sol. Inquestionavelmente, é o Cristo-Sol quem deve guiar-nos nos Mundos Superiores de Consciência Cósmica. As noites longas de inverno são fortes. Na época do Natal os dias são curtos e as noites longas.
Vamos refletindo sobre tudo isto, e convém que entendamos o que é o Drama Cósmico. É necessário que também em nós nasça o Cristo-Sol, ele deve nascer em nós. Nas Escrituras se fala claramente de Belém e de um estábulo onde ele nasce; esse estábulo de Belém está dentro de cada um aqui e agora; precisamente nesse estábulo interior moram os animais do desejo, todos esses "eus " passionais que carregamos em nossa psique... Inutilmente teria Jesus nascido em Belém se não nascesse em nosso coração também. Inutilmente teria morrido e ressuscitado na Terra Santa, se não morre e ressuscita em nós também. Esta é a natureza do "Salvador". O Cristo Íntimo deve salvar-nos, mas salvar-nos desde dentro, a todos nós. Aqueles que aguardam a vinda de Jesus de Nazaré para um futuro remoto estão equivocados; o Cristo deve vir agora de dentro, a segunda vinda do Senhor é de dentro.
Por isto está escrito o que Ele disse: "Se ouvires alguém dizendo na praça pública que é Cristo, não o creiais, e se disserem "Ele está ali no Templo predicando", não o creiais". É que o Senhor não virá desta vez de fora mas de dentro, virá desde o próprio fundo de nosso coração, se nós nos prepararmos. Paulo nos esclarece dizendo: "De sua virtude tomamos todos, graça por graça". Então, está documentado; se estudarmos cuidadosamente Paulo de Tarso, veremos que raramente alude ao Cristo histórico; cada vez que Paulo de Tarso fala sobre o Mestre Jesus Cristo, refere-se ao Jesus Cristo Interior, ao Jesus Cristo Íntimo que deve surgir do fundo de nosso Espírito, de nossa Alma. Enquanto um homem não o tenha encarnado, não se pode dizer que possua a Vida Eterna, Assim, pois, devemos ser menos dogmáticos e aprender a pensar no Cristo Íntimo, isto seria grandioso... O grande Mestre deve surgir no fundo de nossa Alma, de nosso Espírito. O mais duro para o Cristo Íntimo, após seu nascimento no coração do Homem, é precisamente o Drama Cósmico, sua Via-Crucis.
No Evangelho as multidões aparecem pedindo a crucificação do Senhor; essas não são multidões de ontem, de um passado remoto, como se supõe. Não, essas multidões estão dentro de nós mesmos, são nossos famosos "Eus"; dentro de cada pessoa moram milhares de pessoas, o "Eu do ódio", o "Eu tenho ciúmes", o "Eu sinto inveja", o "Eu da cobiça", ou seja, todos os nossos defeitos, e cada defeito é um "Eu" diferente. É claro que essas multidões que trazemos dentro de nós, que são nossos famosos "Eus", são os que gritam: "Crucifiquem-no, crucifiquem-no!".
Muita gente diz: "Acredito ser uma boa pessoa; eu não mato, não roubo, sou caridoso, não sou invejoso", ou seja, são todos cheios de virtude, perfeitos, segundo eles próprios; "ignoto", é o que tenho a dizer ante tanta perfeição. É doloroso isso? É claro, é horrível, é uma traição do tipo mais sujo que há, e não há dúvida de que as religiões se prostituíram e muitos sacerdotes traíram o Cristo Íntimo; não me refiro a nenhuma seita em particular, mas a todas as religiões do mundo. É possível que haja grupos esotéricos dirigidos por verdadeiros Iniciados, e que estes, muitas vezes traidores, tenham traído o Cristo Íntimo.
Pensem por um instante no Cristo Íntimo no mais profundo de cada um de vocês, senhor de todos os processos mentais e emocionais, lutando por salvá-los, sofrendo terrivelmente; os próprios Eus de vocês protestando contra Ele, blasfemando, colocando-lhe a coroa de espinhos, açoitando-o. Bem, esta é a crua realidade dos fatos, este é o Drama Cósmico vivido interiormente.
Aqueles que supõem que pelo simples fato de morrer fisicamente alguém já tem direito à ressurreição dos Mortos são realmente dignos de compaixão; falando outra vez em estilo socrático, não apenas ignoram, mas, o que é ainda pior, ignoram que ignoram.
A Ressurreição é algo pelo qual se tem de trabalhar, e trabalhar aqui e agora, e é preciso ressuscitar em carne e osso (e ao vivo).
A Imortalidade deve-se conseguí-la agora mesmo, pessoalmente; assim se deve considerar todo o Mistério Crístico.
Todo o Drama é em si mesmo extraordinário, maravilhoso, e se inicia realmente com o Natal do Coração.
Mas o que é que o Cristo Íntimo tem de decapitar em nós? Simplesmente deve degolar o Ego, o Eu, o Si Mesmo.
A seguir vêm os feitos milagrosos do grande Mestre. Caminhava sobre as águas, sobre as Águas da Vida tem de caminhar o Cristo Íntimo.
Abrir a visão dos que não vêem, predicando a palavra para que vejam a luz; abrir os ouvidos dos que não querem ouvir, para que escutem a palavra.
Há que compreender tudo isto de forma mais íntima, mais profunda; isto não corresponde a um passado remoto, é para ser vivido dentro de nós mesmos aqui e agora.
Se começamos a amadurecer um pouquinho, saberemos apreciar melhor a mensagem que o Grande Mestre Jesus, o Cristo trouxe a Terra.
Aquele que ressuscita se transforma radicalmente, se converte num Deus-Homem, é um Hierofante da estatura de um Hermes, um Buda. Mas é necessário fazer a Grande Obra. Realmente, não se poderia entender os quatro Evangelhos se não se estudasse Alquimia e Cabala, porque são alquimistas e cabalistas, isto é óbvio. Os judeus tinham três livros sagrados. O primeiro é o corpo da doutrina, a Bíblia. O segundo é a alma da doutrina, o Talmud, no qual está a alma judaica. E o terceiro é o espírito da doutrina, o Zohar, onde está toda a Cabala dos rabinos.
A Bíblia, o corpo da doutrina, está escrita sob chave. Se queremos estudar a Bíblia "compaginando versículos", procedemos de forma ignorante, empírica e absurda.
Prova disto é que todas as seitas mortas que, até a época atual, se nutriram da Bíblia interpretada de forma empírica, não puderam entrar em acordo. Se existem milhares de seitas baseadas na Bíblia, quer dizer que nenhuma delas a compreendeu.
Se quisermos saber algo sobre o Cristo, sobre o Filho do Homem, devemos estudar a Árvore da Vida...
Comecei a pesquisar os ensinamentos internos do cristianismo primitivo por estar convencido de que Mestre Jesus não poderia ter omitido de suas instruções uma metodologia para o caminho espiritual, à semelhança dos métodos conhecidos nas principais tradições orientais. Essas tradições têm atraído milhares de cristãos sinceros, mas, desiludidos com o receituário do cristianismo tradicional. Como o misticismo cristão é muito rico e a literatura existente muito extensa, o foco deste trabalho foi direcionado para o ponto central dos ensinamentos de Jesus, ou seja, a busca do Reino de Deus.
O mais surpreendente, como será visto a seguir, é que a essência dos ensinamentos mais profundos de Jesus sempre esteve expressa na Bíblia e em outros documentos sem ser devidamente percebida. É como se as jóias mais preciosas da mensagem bíblica estivessem escondidas debaixo de nossos olhos sob a aparência de coisas sem maior importância. Dentre essas preciosidades negligenciadas do misticismo cristão poderíamos mencionar:
"Eu e o Pai somos Um," "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará," "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim," "Quem não nascer de novo não poderá entrar no Reino dos Céus," "Vinde a mim as criancinhas,"
"Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer produzirá muito fruto."
"Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer produzirá muito fruto."
Esses exemplos e muitos outros evidenciam que os ensinamentos místicos de Jesus foram preservados em dois segmentos: no primeiro, encontram-se as proposições, instruções e acontecimentos da vida do Salvador, que estão descritos na Bíblia e em diversos documentos apócrifos; no outro, estão os detalhamentos dessas instruções, com as explicações de suas razões e as técnicas e métodos para o aprimoramento da vida espiritual. Essas instruções e explanações que não se encontram na Bíblia ou nos documentos apócrifos, foram passadas de boca a ouvido, naquilo que se chama de tradição oral, ou mesmo por intermédio de outros métodos que serão abordados posteriormente.
Quando buscamos sintonia com o Mestre em nossas meditações, depois de algum tempo, a confusão inicial cede lugar à simplicidade essencial da mensagem divina, facilitando-nos a tarefa de desenterrar a tradição interna que desconhecíamos. Os objetivos da mensagem salvadora de Jesus começam a aclarar-se, seus métodos de transmissão de instruções fazem-se presentes, e seus ensinamentos surgem como jóias preciosas escondidas sob o véu da alegoria. Vivemos na ilusão da separatividade, alimentados pelo egoísmo e pelo orgulho, pensando que criamos de forma separada e independente alguma coisa. A realidade, no entanto, é que cada ser humano é tão somente uma célula no grande organismo da humanidade.
Como tal, a mente de cada um nada mais é do que um aspecto da mente universal, também chamada de inconsciente coletivo ou mente divina. Dentro da mente divina, a verdade está eternamente presente em sua forma essencial, embora seja apresentada de diferentes maneiras, pelos inumeráveis aspectos individuais desse grande Todo.
Verifiquei que, quanto mais procurava estudar e meditar sobre os ensinamentos do Mestre Jesus, mais livros e idéias sobre o assunto iam aparecendo. Percebi que muitas outras almas já haviam decifrado e interpretado boa parte dos ensinamentos do Salvador. Minha tarefa, portanto, foi grandemente facilitada. Como é natural, minhas deficiências literárias, intelectuais e espirituais explicam as falhas que serão encontradas ao longo do texto.
O cristão dedicado e sincero, que procura seguir a orientação do Mestre de tomar a sua cruz e segui-lo, pode se questionar como é possível que o entusiasmo da cristandade dos três primeiros séculos, que seguia Jesus com amor e fervor apesar das perseguições implacáveis que ceifaram a vida de milhares de mártires naqueles tempos, possa ter arrefecido e se transformado, para grande parte daqueles que se dizem cristãos, numa mera afiliação religiosa pró-forma sem o envolvimento de seu coração.
As causas dessa mudança qualitativa da religiosidade do cristão são complexas, mas podem ser em boa parte imputadas ao fato de que a maioria das igrejas atuais distanciaram-se dos ideais originais, retornando ao comportamento de obediência a rituais externos e a práticas religiosas mecânicas que Jesus havia tão duramente criticado nos fariseus e levitas.
As causas dessa mudança qualitativa da religiosidade do cristão são complexas, mas podem ser em boa parte imputadas ao fato de que a maioria das igrejas atuais distanciaram-se dos ideais originais, retornando ao comportamento de obediência a rituais externos e a práticas religiosas mecânicas que Jesus havia tão duramente criticado nos fariseus e levitas.
São poucos os cristãos no mundo de hoje que procuram realmente entender os ensinamentos de Jesus e, um menor número ainda, seguir o Mestre. Com o passar dos séculos, a mensagem central do Mestre Jesus foi progressivamente desvirtuada e acabou sendo esquecida.
Porém, se meditarmos profundamente sobre a essência dos ensinamentos de Jesus, deixando de lado nossas idéias pré concebidas, chegaremos à conclusão de que somos o próprio filho pródigo e que algum dia retornaremos à Casa do Pai, que é o Reino dos Céus, voltando ao estágio de pureza prístina original de um Filho de Deus, tornando-nos, então, um Cristo e podendo dizer, por experiência própria, que "Eu e o Pai somos um" (Jo 10:30).
Paulo demonstra estar em sintonia com essa realidade ao dizer: "Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim" (Gl 2:20). Esse entendimento do potencial ilimitado do homem e o conhecimento da herança divina podem ser obtidos através do estudo e da vivência do lado místico de nossa tradição, que permaneceu esquecido e negligenciado por tantos séculos.
O primeiro passo, para usufruirmos a herança divina é a decisão de reivindicá-la. Para isso temos que nos desvencilhar dos condicionamentos limitativos impostos por muitos séculos de apatia intelectual e de ausência do exercício da vontade. A verdade sempre esteve ao nosso alcance, mas, por várias razões, deixamos escapar a oportunidade de percebê-la. Podemos, no entanto, reverter esta situação porque o momento atual é extremamente propício para o despertar espiritual. Felizmente, os ensinamentos místicos da tradição cristã não foram totalmente perdidos. Eles podem ser recuperados, compreendidos e, se devidamente vivenciados, podem mudar a nossa vida, permitindo que alcancemos "O estado de Homem Perfeito, a medida da estatura da plenitude de Cristo" (Ef 4:13).
O primeiro passo neste estudo dos ensinamentos de Jesus é deixar claro que o cristianismo, em sua essência última, não é uma instituição mas sim uma convicção interior. Essa convicção, a verdadeira fé, deve guiar a conduta de seus seguidores rumo à meta final, o Reino, deixando um rastro de boas obras ao longo do caminho trilhado.
Nesta virada do terceiro milênio, estamos vivendo um momento extremamente propício para tornar conhecidas as coisas ocultas. Por isso esforçamo-nos para fazer com que os ensinamentos de Jesus entesourados em documentos raros, ao alcance apenas de um limitado círculo de estudiosos, sejam postos à disposição dos cristãos sinceros que ainda não conhecem a inteireza de sua mensagem.
As estruturas religiosas foram induzidas a alargar seus horizontes para abranger outros grupos e outras etnias. Em virtude da invasão chinesa, que forçou um êxodo de grandes proporções da comunidade monástica tibetana, o budismo tibetano passou a ser conhecido e praticado por centenas de milhares de pessoas em quase todo mundo ocidental, quebrando um milênio de isolamento no Tibete. O sofrimento do povo tibetano foi transmutado em benefício dos buscadores da verdade em todo o mundo, com a tradução das obras dos mestres budistas daquele país e o estabelecimento de centros de ensino do Dharma em vários países do oriente e do ocidente.
Os cultos de praticamente todas as igrejas cristãs tradicionais, antes e depois da Reforma, baseiam-se num acirramento do aspecto emocional do homem. As liturgias, cânticos, romarias e atos devocionais baseiam-se numa fé emotiva e cega. A questão da verdadeira fé é de grande importância e será examinada posteriormente, pois ela é um dos instrumentos fundamentais do processo transformador cristão.
Mas a emoção é apenas um dos aspectos interiores do homem. O caminho que leva ao Reino dos Céus requer a integração de todos os aspectos do ser humano. Isso significa que a emotividade religiosa tem que abrir espaço para a razão, a fim de que as duas, emoção e razão, possam ser integradas e transcendidas, no seu devido tempo, pela intuição. Isso só ocorre quando o Cristo interior tem condições de despertar no âmago de nossos corações e, progressivamente, assenhorar-se do comando de nossas vidas. Esse processo de integração, ou ecumenismo interior, é a essência dos ensinamentos internos de Jesus.
Assim como o aumento da intensidade das energias espirituais neste século se fez sentir ao nível das idéias, dos movimentos e das instituições existentes, com mais razão ainda se fez sentir na alma das pessoas. Milhões de indivíduos em todo mundo passaram a sentir o chamado do alto. Esse chamado, sempre sutil, procura por diversos meios fazer com que o homem entenda que sua meta é o Reino e que, para atingi-la, torna-se necessário um progressivo desapego do mundo material.
A forma como os homens geralmente sentem esse chamado é através da insatisfação com sua vida, mesmo quando estão aparentemente fazendo as coisas certas e vivendo uma vida ética. Essa divina insatisfação deslancha um processo de busca, que, inicialmente, é confuso, pois o homem não consegue identificar exatamente o que está procurando. Busca livros e outras formas de auto-ajuda, dentro e fora de sua tradição; procura ouvir todo tipo de palestra sobre temas espirituais, enfim; procura por todos os meios saciar sua terrível sede da verdade.
Muitos dos que batem às portas das igrejas voltam desapontados com o receituário prescrito pelos seus sacerdotes e pastores.
Podemos identificar três áreas principais de insatisfação com a ortodoxia: os dogmas, a conceituação do homem como pecador e de Deus como justiceiro e, finalmente, as práticas espirituais sugeridas.
Os dogmas de fé sempre constituíram-se em obstáculos para o crescente segmento pensante da cristandade. Enquanto o domínio da Igreja de Roma era total sobre seus fiéis, o medo era geralmente suficiente para manter os fiéis e até mesmo os intelectuais em linha. Porém, neste último século, com os grandes avanços na educação das massas e a liberdade de pensamento exercida sem as antigas inibições religiosas, o conflito entre dogma e razão vem levando um número crescente de cristãos a assumir uma posição de coerência com seus sentimentos mais íntimos. Infelizmente, isto tem também levado muitos a rechaçarem, juntamente com os dogmas, toda a doutrina cristã e os ensinamentos corretos.
A segunda área de conflito com a doutrina ortodoxa já era sentida de forma latente há muitos séculos, como uma repulsa instintiva ao conceito do Deus justiceiro apresentado pelo Antigo Testamento, em sua interpretação literal, que foi encampado pela ortodoxia cristã. Conceber Deus como um Ser sujeito a ataques de fúria que precisam ser aplacados por diversas formas de sacrifícios e holocaustos fere a consciência daqueles que não se recusam a pensar e constitui-se numa verdadeira heresia. A máxima heresia nesse sentido é a proposição de que o Filho de Deus foi oferecido em sacrifício para propiciar o perdão de Deus pelos pecados dos homens, conhecida como doutrina da expiação vicária.
Felizmente, em nosso século, com os avanços da psicologia moderna e o entendimento do lado sombra do ser humano, o cristão começou a entender porque sempre se sentiu incomodado por sua caracterização como 'vil pecador. Jung mostrou que as negatividades inerentes ao nosso processo de aprendizado terreno devem ser entendidas e superadas pela compreensão e amor e não pelo temor de um Deus implacável que castiga nossas falhas e fraquezas com os tormentos do fogo eterno.
Finalmente, muitos dos cristãos que ainda se mantêm fiéis à Igreja mostram seu descontentamento com as práticas espirituais tradicionais da ortodoxia e, em alguns casos, com o significado deturpado dado a elas. A missa, o terço, as romarias e as outras práticas disponíveis aos leigos contrastam com as práticas de outras tradições que, aos poucos, se tornaram conhecidas no Ocidente. Esse descontentamento não se restringe aos católicos mas é sentido, também pelos fiéis das seitas evangélicas e protestantes com sua conhecida inflexibilidade em questões doutrinárias.
Se por um lado existe uma natural curiosidade por parte de todo cristão em conhecer os ensinamentos internos de sua tradição, devemos estar preparados para o fato de que esses ensinamentos nem sempre estarão de acordo com nossas idéias tradicionais. Na verdade, parte dos conceitos ortodoxos deverão ser modificados e, em alguns casos, até mesmo abandonados, à medida que adquirimos um entendimento mais sólido do lado místico dos ensinamentos de Jesus. Esse é o processo natural de amadurecimento de todo indivíduo. As noções que governam a atitude das crianças em seus primeiros anos de interação com o mundo exterior, dão geralmente lugar a conceitos mais abrangentes e complexos quando o jovem adulto está suficientemente amadurecido em sua capacidade intelectual e emocional.
Um processo semelhante ocorre em nossa vida espiritual. Para que o devoto possa crescer espiritualmente, ele deve aprender a entender o sentido místico subjacente às doutrinas anteriormente aceitas literalmente como dogmas de fé.
Deve estar disposto a investigar a simbologia bíblica. Essa disposição implica numa atitude de flexibilidade e tolerância para com idéias e argumentos diferentes dos aceitos até então.
O verdadeiro estudioso deve submeter todo conceito e argumento, tanto tradicional como não-ortodoxo, ao crivo da razão e, a seguir, à avaliação do coração. O devoto que adotar essa postura espiritualmente sadia estará chamando em seu auxílio o Cristo interior, que derramará suas bênçãos na forma de inspiração para a compreensão mais profunda das verdades transformadoras de nossa tradição.
Com isso ele sentirá uma profunda alegria ao efetuar uma leitura crítica, que lhe permitirá construir paulatinamente, e de forma consciente, o arcabouço doutrinário e prático de sua transformação espiritual.
Isso significa que o leitor deve adotar a postura do cientista que, ao iniciar um novo projeto de pesquisa, adota uma série de hipóteses de trabalho, que serão investigadas e testadas. Caso essas hipóteses facilitem o avanço da pesquisa e sejam confirmadas por testes posteriores, então, e só então, poderão ser promovidas de hipóteses a premissas para a implementação da parte prática que permitirá a conclusão do trabalho.
Essa atitude "científica", apesar de atraente e lógica, é difícil de ser adotada na prática. Todos nós interagimos com o mundo a partir de um grande número de condicionamentos, a maior parte dos quais inconscientes.
Nossa mente racional pode estar disposta a considerar uma determinada linha de raciocínio, porém, nossos sentimentos, que são governados pelo inconsciente, usurpam muitas vezes a atribuição da razão e rejeitam os argumentos lógicos tão logo percebem que esses podem ameaçar a segurança de nossa estrutura de valores.
Isso explica a natureza intrinsecamente conservadora de todo ser humano. Resistimos à mudança porque toda mudança implica numa revolução interior que demanda um compromisso inabalável com a verdade. Esse compromisso implica em humildade para aceitar a possibilidade de que alguns de nossos mais estimados conceitos foram construídos sobre a areia e, finalmente, uma coragem extraordinária para enfrentar a resistência inicial de nosso ego orgulhoso e inseguro.
Os meandros da mente são muitas vezes desconcertantes para o iniciante. Um profundo estudioso da matéria escreveu: "A mente formal assemelha-se a um ditador de um estado autoritário. Tal dirigente não pode, não ousa, tolerar qualquer interferência de outros no seu despotismo ou sugestão de controle sobre ele, porque se isso prosperasse a sua ditadura eventualmente terminaria.
No que concerne à manutenção de seu sistema e ao controle das mentes cegas de seus membros, a ortodoxia religiosa estreita e defensiva está precisamente na mesma posição. Todo dogmatismo em assuntos religiosos surge do medo e desse impulso para o poder e sua preservação."
Para o estudante de misticismo, toda e qualquer proposição doutrinária ou filosófica deve ser tomada como hipótese de trabalho da mente concreta, até que ele alcance o estado místico que lhe permita conhecer diretamente a verdade. Quando em profunda contemplação ele passar a comungar com a Luz, então, e só então, poderá saber com toda certeza as verdades que transcendem a mente intelectiva e que pertencem ao âmbito do que chamamos de intuição.
É esse conhecimento que os antigos chamavam de gnosis, o conhecimento direto da verdade que é alcançado com a iluminação, e que gera uma fé inabalável.
O importante são os ensinamentos transformadores, que poderíamos chamar de metodologia para a transformação do homem velho no homem novo. Quando tivermos nascido de novo, iluminados pelo Cristo interior, estaremos capacitados a reavaliar nossas premissas anteriores para, então, estabelecer nossa fundamentação filosófica com base na Verdade e não mais em hipóteses.
O estudante que estabelecer como meta a sua transformação interior, não se deixando limitar ou intimidar por argumentos filosóficos ou teológicos, poderá deixar para mais tarde as decisões doutrinárias, quando estiver capacitado pela iluminação transformadora a pronunciar-se sobre esses pontos de forma definitiva. O Mestre deve ter tido isso em mente quando nos disse:
"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (Jo 8:32).
Observamos que o Caminho, como tudo na vida, apresenta uma periódica alternância de ciclos. Na primeira etapa a criança tem uma atitude passiva para com a vida, aceitando a orientação de seus superiores. O adulto, ao contrário, para ser bem sucedido, deve assumir uma atitude ativa, buscando sua liberdade para decidir sobre o que julga ser melhor para seus interesses. Na última etapa, o futuro sábio deve mais uma vez retornar à passividade, aguardando com paciência, humildade e perseverança a chegada da Graça, que trará a iluminação. Palavras do Mestre:
"Nada há de oculto que não venha a ser manifesto, e nada em segredo que não venha à luz do dia" (Mc 4:22).
Em sua essência, o método poderia ser resumido no que a ortodoxia chamou de 'arrependimento', mas que no original grego era metanoia, que tinha um significado bem mais amplo, que era o de mudança dos estados mentais que levam à mudança de consciência pela superação dos condicionamentos e da ignorância anterior.
Esse conceito é basicamente psicológico e oferece um paralelo com o enfoque da tradição budista de transformação da mente. Ainda nesta parte são abordados os primeiros passos no caminho espiritual, incluindo o despertar para a realidade última da vida, a eterna busca da felicidade e o papel da aspiração ardente. Finalmente, são examinadas as regras do caminho espiritual, a fundação da verdadeira fé. Dentre essas regras são discutidas a unidade de todas as coisas, a natureza cíclica da manifestação, o objetivo do processo de manifestação, o papel do livre arbítrio e da lei de causa e efeito e a importância do conhecimento de si mesmo.
Dentre elas destacam-se a integração entre a natureza superior e a inferior do homem, semelhante ao processo de individuação descrito por Jung, como necessária para que ocorra o verdadeiro crescimento espiritual.
Verifica-se que o amor e a verdade são os elementos integradores mais importantes no processo. De interesse especial para o devoto são os indícios de que a transformação está ocorrendo e está levando-o progressivamente à união com o Supremo Bem, a meta de todo esforço. Um fato de especial interesse para o devoto é que a vida do Cristo, pode ser vista como uma alegoria do caminho acelerado, em que os marcos de seu nascimento, batismo, transfiguração, morte e ressurreição e, finalmente, a ascensão representam as cinco grandes iniciações.
"E, tomando o pão, e havendo dado graças, partiu-o, e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim." Mestre Jesus, o Cristo (Lucas 22.19)
A CENA DO NATAL
Comemorado por milhões de cristãos todos os anos, está repleta de símbolos.
O estábulo, ou gruta, representa o corpo físico que abriga em seu interior todos os membros da família divina, que são os diferentes princípios do homem.
A manjedoura, onde o Cristo menino está reclinado, utensílio usado na alimentação dos animais, representa o corpo vital que preserva e distribui a força vital do sol, pelo corpo físico. Os carneiros e as vacas representam as emoções. Para que o Cristo possa nascer pressupõe-se que esses animais tenham sido domesticados, ou seja, que as emoções do candidato à iniciação tenham sido disciplinadas e purificadas. Os pastores representam os irmãos mais velhos e guias da humanidade, os Mestres que sempre comparecem às cerimônias de iniciação.
O estábulo, ou gruta, representa o corpo físico que abriga em seu interior todos os membros da família divina, que são os diferentes princípios do homem.
A manjedoura, onde o Cristo menino está reclinado, utensílio usado na alimentação dos animais, representa o corpo vital que preserva e distribui a força vital do sol, pelo corpo físico. Os carneiros e as vacas representam as emoções. Para que o Cristo possa nascer pressupõe-se que esses animais tenham sido domesticados, ou seja, que as emoções do candidato à iniciação tenham sido disciplinadas e purificadas. Os pastores representam os irmãos mais velhos e guias da humanidade, os Mestres que sempre comparecem às cerimônias de iniciação.
Paulo refere-se a esses guias como “os justos que chegaram à perfeição” (Hb 12:23). Os três reis magos, que vieram do oriente (de onde vem a luz), simbolizam os três aspectos da divindade. Eles trazem presentes (ouro, incenso e mirra) ao jovem iniciado, expressando os aspectos espirituais do poder, do amor e da sabedoria. Com esses presentes a alma recém-iluminada, ou o Cristo-criança recém-nascido, está capacitado a empreender sua missão. Os reis magos são guiados pela estrela de Belém, o pentagrama que cintila acima da cabeça do hierofante sempre que um rito iniciático está em andamento.
Os evangelistas, como iniciados, conheciam claramente a linguagem sagrada e assim apresentaram um relato alegórico que preserva para todos os que têm olhos para ver a mensagem auspiciosa de que Cristo aguarda a oportunidade para nascer na consciência de todos os que aspiram alcançar o Reino dos Céus.
Quando esse nascimento virginal ocorrer, a luz crística na alma do iniciado passará a derramar suas bênçãos sobre toda a natureza inferior do homem, estimulando sua capacidade intelectual, percepção e sensibilidade. A expansão de consciência conseqüente faz com que a unidade de todos os seres deixe de ser meramente um conceito intelectual.
BOAS FESTAS, FELIZ NATAL DO SEU CORAÇÃO, QUE O TEU CRISTO INTERNO, POSSA SE TORNAR CADA DIA MAIS PRESENTE, ATIVO E DESPERTO EM VOCÊ.
*A propósito, Mestre Jesus, não nasceu dia 25/12.
Fraternalmente - Jesus عيسى Mihu Omnia - السلام عليكم, nʌmʌsˈte नमस्ते
Anubys
Os Cristãos Gnósticos constituíram, nos primeiros anos dessa nossa era, uma comunidade fechada, iniciática, que guardou os aspectos esotéricos dos evangelhos, principalmente das parábolas do Mestre Jesus, o Cristo, apresentando um cristianismo muito mais profundo e filosófico do que daqueles cristãos que ficaram conhecidos como a ortodoxia.
Gnose, tem por origem etimológica o termo grego "gnosis", que significa "conhecimento". Mas não um conhecimento racional, científico, filosófico, teórico e empírico (a "episteme" dos gregos), mas de caráter intuitivo e transcendental. A Sabedoria ultrapassa o intelecto, através da intuição, contempla. A Sabedoria faz com que a Verdade seja inteligível. O intelecto usa a razão e o conhecimento discursivo.
Gnose é usada para designar um conhecimento profundo e superior do mundo e do homem, que dá sentido à vida humana, que a torna plena de significado porque permite o encontro do homem com sua Essência Eterna, maravilhosa e Crística, pela via do coração.
Gnose é uma realidade vivente sempre ativa, que apenas é compreendida quando experimentada e vivenciada. Assim sendo jamais pode ser assimilada de forma abstrata, intelectual e discursiva.
Nós Gnósticos usamos de explicações metafísicas e 'mitologicas' para falar da criação do universo e dos planos espirituais, mas nunca deixamos de relacionar esse mundo externo e mitologico a processos internos que ocorrem no homem Hoje a palavra mito, significa alguma coisa inveridica, irreal ou ficticia. Entretanto ela deriva do vocábulo grego mythos, que em seu uso original significa uma explicação da realidade que lhe confere significado.
Anubys
Os Cristãos Gnósticos constituíram, nos primeiros anos dessa nossa era, uma comunidade fechada, iniciática, que guardou os aspectos esotéricos dos evangelhos, principalmente das parábolas do Mestre Jesus, o Cristo, apresentando um cristianismo muito mais profundo e filosófico do que daqueles cristãos que ficaram conhecidos como a ortodoxia.
Gnose, tem por origem etimológica o termo grego "gnosis", que significa "conhecimento". Mas não um conhecimento racional, científico, filosófico, teórico e empírico (a "episteme" dos gregos), mas de caráter intuitivo e transcendental. A Sabedoria ultrapassa o intelecto, através da intuição, contempla. A Sabedoria faz com que a Verdade seja inteligível. O intelecto usa a razão e o conhecimento discursivo.
Gnose é usada para designar um conhecimento profundo e superior do mundo e do homem, que dá sentido à vida humana, que a torna plena de significado porque permite o encontro do homem com sua Essência Eterna, maravilhosa e Crística, pela via do coração.
Gnose é uma realidade vivente sempre ativa, que apenas é compreendida quando experimentada e vivenciada. Assim sendo jamais pode ser assimilada de forma abstrata, intelectual e discursiva.
Nós Gnósticos usamos de explicações metafísicas e 'mitologicas' para falar da criação do universo e dos planos espirituais, mas nunca deixamos de relacionar esse mundo externo e mitologico a processos internos que ocorrem no homem Hoje a palavra mito, significa alguma coisa inveridica, irreal ou ficticia. Entretanto ela deriva do vocábulo grego mythos, que em seu uso original significa uma explicação da realidade que lhe confere significado.
"Na verdade, os Amigos de Deus nada temem e não se entristecem por coisa alguma. Pois se defrontam com a realidade interior deste mundo, enquanto outros homens se defrontam com sua aparência exterior. Do mesmo modo visam o fim deste mundo, enquanto outros visam apenas o presente imediato aqui. Destroem no mundo aquilo que pode destruí-los, e abandonam o que sabem que vai abandoná-los. São hostis para aquelas coisas às quais os outros homens se associam, e abençoam as coisas que outros homens odeiam. Demonstram a maior admiração pelo boas ações dos outros, enquanto eles próprios possuem bens que valem a maior admiração. Para eles, conhecimento (gnose) é o guia, através do qual eles mesmos ganham conhecimento. Não depositam fé exceto naquilo que guardam esperança, nem temem nada exceto aquilo que deveria ser evitado."
Enquanto existir uma luz na individualidade mais recôndita da natureza humana, enquanto existirem homens e mulheres que se sintam semelhantes a essa luz, sempre haverá Gnósticos no mundo.
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