quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

NAVEGAR NO ANO 5771



Reflito sobre o Ano Novo judaico de 5771 e sua demanda por reengenharia dos padrões, modelos e gabaritos da existência. Os empecilhos ao novo estão incrustados na superfície da existência como as cracas que aderem ao casco dos navios. Somos como naves que singram oceanos de dimensões e profundidades para além de nossa grandeza e temos de zelar para não perder a competência de deslizar e fluir. A existência como indivíduo depende desse delicado contato entre a nau que precisa deslocar-se autônoma e a sustentação que tem que vir do amparo do mar. Mas como ser livre e sustentado? Como ser móvel e flutuar? Como ser descolado e pendente ao mesmo tempo?

Para tal devemos restaurar as formas deslizantes e polir nossa superfície para que fique suavizada e plaine pela realidade. Temos que raspar bactérias, algas e mexilhões sob a forma de vícios e padronizações que aderem ao nosso ser neste velejar pelo tempo. E a resina, a epóxi esmaltado que permite fluir no tempo viscoso da vida sem aderências e resistências, é, sem dúvida, a surpresa. Restaurar o potencial de nos surpreender é o que permite navegar prazerosamente do presente ao futuro.

Aos marinheiros que vão se familiarizando com o mar da vida, mais fácil falar do que fazer. Porém, justo aí está o aspecto a ser polido. Por ser mais fácil falar, começamos a existir nas falas fazendo-nos carentes na fluidez do fazer e do sentir. As frustrações, os desapontamentos e as violências vão carregando nosso mar de menos azul-verde e acinzentando-o de “realismo”.

Os bons ventos e as mudanças de correntes simbolizados nos anos novos e nos acostamentos da vida que revelam panoramas são importantes formas de lembrar que a surpresa não é algo esotérico, um segredo mantido a sete chaves por sábios e crianças. A surpresa é meramente a esperança.

Sempre colocamos o intelecto e as emoções como capacidades diametralmente opostas. No entanto, há uma profunda ligação entre os dois. O intelecto, na verdade, é a mãe das emoções. O que uma pessoa pensa em sua mente irá afetar o que sente no coração. Não temos poder sobre a realidade, mas temos total poder sobre a tela na qual representamos a realidade me nossa mente.

Neste tempo que é particular de um grupo, mas universal na simbologia e no mito humano, limpe o seu casco das falas que se impregnam à mente, por que é ela que toca a realidade a cada instante. E entre a surpresa que protege o fragmento do indivíduo e o oceano que protege a totalidade da vida está essa pequena película, feito superfície, chamada esperança. É ela que permite este estranho fenômeno de navegar – solto e sustentado ao mesmo tempo.
Boa viagem!!!


Pax Et Lux

Nenhum comentário:

Postar um comentário